História da Terapia Ocupacional
Segundo a literatura da Terapia
Ocupacional, o uso terapêutico das ocupações remete-se a Antiguidade,
caracterizado desde o princípio como profissão da área de saúde. Essa profissão
surgiu como instrumento, recurso e ato médico, e ainda se acreditava que as
ocupações realizadas por doentes manteriam o ambiente tranquilo.
Nos
séculos XVII e XVIII, os marginalizados sociais, que posteriormente foram
chamados de doentes, passavam por ações punitivas, dentro de regime
semipenitenciário e semicaritativo. E ainda, existiam agentes institucionais
que não aceitavam os alienados nas casas de detenção e pediam a criação de
espaços médicos e a divisão e aprisionamento de acordo com o tipo de patologia
apresentada nessas instituições.
Além
do mais, a instalação de asilos tinha caráter de manter a ordem social e não de
realizar o tratamento dos doentes e os hospitais tinham função mais religiosa
do que médica. O tratamento surgiu como uma espécie de sanção que deveria ser
disfarçada. Assim, a partir do século XIX, com a medicalização e diferenciação
dos aparelhos para tratamento, os loucos e idiotas passaram a ser reconhecidos
por suas características.
O
tratamento moral surgiu como uma manutenção da ordem social que passava a ideia
do asilo como uma casa de educação de caráter especial. Logo foi introduzido o
trabalho com sua utilização ordenada e controlada do tempo, como recurso
terapêutico. O trabalho desenvolvido por eles servia como fonte orçamentária
para a manutenção da instituição.
Através
da implantação do racionalismo experimentalista e a afirmação do cientificismo
surge a Filosofia Positivista e a Escola do Pensamento Científico. A partir
desse momento, o enfoque do tratamento da doença e sua explicação passaram a
ser o cérebro humano, não mais o ambiente. E, predominou a concepção
organicista da doença mental.
A
Teoria da Psicobiologia, de Adolf Meyer, tinha como base a relação entre
padrões de hábitos e doença mental. O homem passou a ser visto como um
organismo complexo, psicológico e biológico, em interação com o mundo social,
com isso, o enfoque passa a ser os mecanismos de organização do comportamento e
estilo de vida e o cérebro tem menor enfoque.
A
necessidade da reconstrução social no pós-guerra aumentou o reconhecimento do
tratamento através da ocupação no tratamento do doente físico e mental, assim
buscando a reinserção do paciente no meio social, restaurando sua capacidade e
competência para um papel produtivo na sociedade.
Adolf
Meyer influenciou Eleonor Clark, fundadora da primeira escolar regular da
Terapia Ocupacional nos Estados Unidos e da Associação Americana de Terapia
Ocupacional, tinha como princípio que o comportamento só poderia ser organizado
pelo agir, pela utilização ativa e intencional do tempo no contexto de uma vida
normal. Não podemos deixar de citar, um médico influente na assistência
psiquiátrica no Brasil, Hermann Simon , seu método era o “Tratamento Ativo”
acreditando que o repouso do encamamento acarretava a abolição da atividade
mental e a demência. Em 1905, Simon desenvolveu um esquema de terapia
ocupacional e o aplicou em todo o hospital, atingindo 98% de seus pacientes.
No
século XVIII, aparece a ideia do uso terapêutico das ocupações como prática
médica, porém a partir do século XX houve a aceitação da utilização terapêutica
da ocupação, através do reconhecimento de que a saúde do indivíduo está ligada
a complexidade das experiências diárias.
A
Terapia Ocupacional surgiu na segunda década do século XX, veio como resultado
da compartimentalização do conhecimento e a especialização do trabalho e o
alcance profissional varia de acordo com o campo médico ao qual está associada.
O marco da T.O. está ligado a Primeira Guerra Mundial, ao qual aumentou os
incapacitados e neuróticos de guerra, surgindo a partir daí como categoria
profissional e como profissão da área de saúde. A primeira escola surgiu nos
Estados Unidos em 1917 e em outros países no início da Segunda Guerra Mundial.
Segundo
Kielhofner e Burke, nas décadas de 30 e 40 nos Estados Unidos, a Terapia
Ocupacional viveu uma pressão do desenvolvimento do conhecimento científico na
área de saúde e que a T.O. alcançasse o status científico, pois o tratamento da
ocupação, através do “Paradigma da Ocupação” era não-científico.
Com
a Segunda Guerra Mundial surgiu a necessidade de terapeutas ocupacionais em
hospitais civis e militares, surgindo diversas escolas de maneira desordenada e
exigindo a elaboração de padrões mínimos. O aperfeiçoamento dos conhecimentos
na área de saúde trouxe o desenvolvimento de novos métodos de tratamento; o
holismo de Meyer acabou perdendo influência. A T.O. focou no tratamento das
partes afetadas, onde havia incapacidade física e doença mental. Entre 1940 e 1960,
surgiu o Movimento Internacional de Reabilitação, criado com a necessidade da
população de atendimentos em especial na área das disfunções físicas.
No
Brasil, a utilização do trabalho como forma de tratamento iniciou com a
fundação do Hospício D. Pedro II em 1852, no Rio de Janeiro. Em 1898,
iniciou-se o funcionamento do Hospital do Juqueri, atualmente chamado de
Hospital Franco da Rocha. A forma de tratamento era pela ocupação do paciente
internado e estava baseado no tratamento moral, tendo como princípio que a
organização do ambiente e das ocupações leva a reorganização do comportamento
do doente mental.
Em
1829, Henrique de Oliveira Matos escreveu sua tese a “Labortherapia nas
Affecções Mentaes”, que foi o marco inicial da produção científica nacional
sobre a terapêutica ocupacional (o tratamento pelas ocupações, sendo os médicos
no Brasil). A partir dessa inserção dos serviços de reabilitação física no
país, mudanças ocorreram na concepção de saúde, passando a seguir modelos
estrangeiros de reabilitação.
Na
décado de 50, a Terapia Ocupacional era reconhecida como uma profissão de
reabilitação e reinserção no trabalho do traumatizado de guerra, assim
reconhecendo que financeiramente falando, é melhor reabilitar um indivíduo do
que ser dependente dos recursos do Estado. A formação era restrita e específica
com a T.O. responsável pelos membros superiores e técnicas em atividades de
vida diária.
Em
1969, a Terapia Ocupacional é reconhecida como de nível superior junto com a
Fisioterapia. Com a extinção do Instituto de Reabilitação, no começo da década
de 70, o curso de T.O. passou a fazer parte da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo. Segundo alguns autores a década de 70 pode ser
considerada um período emblemático da história da Terapia Ocupacional.
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